IGREJA E ESTADO DE MÃOS DADAS

    Agora que a poeira está baixando, depois de assistir às manifestações pelo Brasil e o mundo, depois de ler alguns artigos e rever reportagens sobre o assunto, começo a digerir o que tenho visto, ouvido e lido.

    Diante de tantas perguntas, de tantas revindicações e diante da falta de respostas, não consegui deixar de fazer a relação entre Igreja e Estado.

    Lembro-me das aulas do professor Delambre de Oliveira no Seminário do Sul, onde me formei em Teologia. Ele dizia que "a igreja está dando respostas ao que não está sendo perguntado". Ele queria dizer que a igreja (quando falo "Igreja", me refiro aos líderes das igrejas, dos quais me incluo) continua usando a mesma teologia dos séculos XIX e XX para a nossa sociedade, apesar de as perguntas que se faziam naquele tempo serem completamente diferentes das que se fazem nos tempos de hoje. Hoje, as crises e necessidades da vida e as perguntas da alma são outras.

    Na política não tem sido diferente.
Há anos e mais anos, as promessas são sempre as mesmas, as respostas para os problemas não resolvidos, para as promessas não cumpridas e as soluções para as necessidades do povo que nunca são respondidas com coerência às perguntas feitas. O povo, então, foi para as ruas gritar bem alto as perguntas para o Estado ouvir, exigindo respostas coerentes, de uma vez por todas. Mas agora não bastam só as respostas, elas têm de vir acompanhadas das soluções. O povo, por sua vez, não aceita mais as mesmas respostas de sempre. O povo não aceita mais a política de sempre. O povo não aceita mais o Brasil de sempre.

    É diante disso tudo que os políticos foram pegos "de surpresa", estão perplexos. Eles não esperavam que o povo brasileiro uma hora se levantaria e não aceitaria mais a corrupção descarada. Eles não esperavam que uma hora o povo viria como um relâmpago e exigiria, imediatamente, respostas para tantas falhas cometidas.

    Acredito que ainda não seja a hora do juízo final para o Estado. É só um pequeno ensaio. O juízo final será muito pior do que essas manifestações -- incluindo as dos "vândalos" -- pode acreditar. E isso não sou eu quem digo.

    Até quando continuaremos dando respostas ao que não têm sido perguntado?

    As manifestações do povo em relação às igrejas é a evasão. Este é o mais "novo" quadro da estatística do IBGE, o chamado grupo dos "sem religião". No meio evangélico, os números já superaram 4 milhões de pessoas, 14% só em 2009 ¹. As pessoas cansaram desse modelo institucional de Igreja, cujo discurso não condiz com a prática e as coisas são mais importantes do que as pessoas. Investimos mais nas edificações materiais: mega templos, mega shows, mega salários pastorais, e quase nada nas edificações da vida dos pobres, dos injustiçados, das crianças abandonadas, exploradas e abusadas, das mulheres espancadas e das famílias desabrigadas, desestruturadas e destroçadas. Dizemos que a família é a coisa mais importante para Deus, que foi Ele quem criou, mas não damos tempo nem suporte para as famílias subsistirem. Cadê os verdadeiros pastores de homens e mulheres, que visitam, que abraçam, que choram a dor dos seus? Cadê os pastores que não colocam o púlpito como a coisa mais importante do seu ministério (não quero aqui tirar a importância da pregação, nem muito menos negar que temos que nos preparar melhor e muito para isso)?

    Como diria João Alexandre, cantor e compositor cristão, "é muito mais e tudo isso".

    Diante destas questões, eu me (lhe) pergunto: Qual a diferença entre o Estado e a Igreja?
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¹ Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/959739-sobe-total-de-evangelicos-sem-vinculos-com-igrejas.shtml
Revisado por Gustavo Mathias Valentim (Grande amigo)

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